terça-feira, dezembro 05, 2006

País sem Qualidade

Acrescento: tendencialmente a ficar desertificado, maus aproveitamentos dos nossos recursos, pouco cuidado nos aspectos Ambientais (rios, mar, solos, ar).

Vasco Pulido Valente escreveu há dias, no Público - sendo depois citado pelo JN - que "um temporal bastou para mostrar a inquietante fragilidade do país". Assim foi, de facto cinco dias de chuva ininterrupta deixaram à mostra que nestas últimas décadas, antes e depois do 25 de Abril, fizemos, em termos de modernização deste cantinho à beira mar plantado, apenas o acessório, já que aquilo que é determinante para o bem-estar dos cidadãos continuou adiado, pelos vistos com tendência para a eternidade. Bastou, portanto, uma semana de chuva para que as nossas cidades, em particular Porto e de Lisboa, deixassem à mostra ruas transformadas em rios, com bueiros entupidos, árvores arrancadas, casas inundadas e serviços municipais incapazes de responderem pela positiva às solicitações dos cidadãos. Se juntarmos a tudo isto os preocupantes sinais que nos começam a chegar, um pouco de todo o país, quanto à falta de recolha de lixo doméstico e industrial, numa aparente tentativa de justificar uma possível privatização dos serviços que até há muito poucos anos atrás funcionava a preceito, julgamos que o quadro fica completo. Voltamos a repetir o país tem feito o acessório e adiou o essencial para as calendas de Abril. Faz-se a Expo-98 mas não se regularizaram as margens do Tejo, dotando-as as infra-estruturas capazes de responder adequadamente às ocasiões em que as chuva diluviana, obriga a que as barragens hidroeléctricas, abram as suas comportas de fundo. Concretizou-se a Capital Europeia da Cultura no Porto de 2001 mas, a despeito de algumas obras emblemáticas - a Casa da Música é uma delas -, verdade seja dita que nem tudo correu bem em termos de requalificação urbana. O Centro Histórico jaz em completo abandono, muito embora nos prometam que a SRU "Porto Vivo" vai, um dia, resolver todos os problemas. Fizeram-se lindas estações para o metro mas bastou um dia de enxurrada para duas delas tivessem ficado inoperacionais por largo tempo. Fizeram-se ainda não sei quantos estádios de futebol e, passado que foi o Euro 2004, é uma dor de alma ver a maior parte deles às moscas, com a excepção dos recintos desportivos dos chamados "três grandes" do nacional-futebolismo indígena. Depois é o que se sabe quando a hospitais que não funcionam ou encerram; escolas que não têm a mínima qualidade para acolher os nossos filhos e os seus professores; estradas secundárias completamente abandonadas sem que as "Estradas de Portugal" ou as autarquias lhes prestem os menos cuidados; e pavilhões, como o da Rosa Mota, completamente vazios enquanto, aqui tão perto, depois da Circunvalação, se constroem "multiusos" que, depois, ficam às moscas. Ou seja, tudo o que é atendimento e serviço à população que paga (e não bufa) os seus impostos, não existe já não se pede em quantidade mas pelo menos em qualidade. Por último o eterno problema da água. Falar da falta dela quando a chuva cai a cântaros poderá parecer heresia. Mas não, num contexto de mudanças climáticas que torna o Mundo cada vez mais quente, deixar que ela escorra lentamente para o mar sem se ter o cuidado de preservar esta fonte de riqueza é crime de lesa sociedade. Um exemplo gritante foi-nos dado pelo Douro que galgou as margens das ribeiras do Porto e Gaia quando a barragem de Crestuma debitou qualquer coisa como 9400 metro cúbicos por segundo... de pura perda. Espanha, no mesmo curso de água, aprisiona cerca de 60% do seu caudal para efeitos energéticos; nós, por cá, apenas aproveitamos 6%. Não seria a altura de nos deixarmos de retóricas e deitar mão à obra construindo barragens em todos os afluentes do Douro para aproveitarmos esta riqueza que vai direitinha para o mar ?JN 4/12/2006

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